Belchior, cantor e compositor cearense, se firmou como um dos primeiros cantores nordestinos de MPB

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Ele ficou famoso em meados da década de 1970, quando se firmou como um dos primeiros cantores nordestinos de MPB.

 

Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes

O cantor e compositor Belchior foi um dos primeiros cantores nordestinos de MPB. (Foto de 1997 Foto: O Globo)

 

Grande expoente da música popular brasileira

Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes (Sobral, Ceará, 26 de outubro de 1946 – Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, 30 de abril de 2017), cantor e compositor cearense, criador de hinos da MPB, conhecido simplesmente como Belchior, autor de “Apenas Um Rapaz Latino Americano” e “Como Nossos Pais”.

Com uma carreira longa, ele lançou mais de 20 discos. Entre suas músicas de sucesso estão: “Apenas um rapaz latino americano”, “Como nossos pais”, que ficou famosa na voz de Elis Regina, e “Divina comédia humana”. Com uma riquíssima obra e discos considerados pilares da nossa música, Belchior começou a fazer sucesso em meados dos anos 60, vencendo diversos festivais de música da região. Em 1971, quando se mudou para o Rio, venceu o IV Festival Universitário da MPB, com a canção ‘Na Hora do Almoço’.

Um dos compositores mais emblemáticos dos anos 1970, onde trabalhou em rádio e bebeu direto na fonte do repente, influência sentida em suas letras. Em 1983 fundou sua própria produtora e gravadora, a Paraíso Discos.

Nos anos 1970, depois de estudar filosofia e medicina, ligou-se a um grupo de jovens compositores cearenses que queriam seguir a carreira musical, entre eles o cantor Fagner.

Em 1972, foi descoberto por Elis Regina, ao lançar “Mucuripe”, canção sua com o amigo. Mais tarde, a gravação de Elis para “Como Nossos Pais” e “Velha Roupa Colorida” impulsionou ainda mais a carreira do cantor. As duas canções, junto com “Apenas um Rapaz Latino Americano”, estão no trabalho mais célebre de sua carreira, “Alucinação” (1976).

Um canto torto que, feito faca, corte a carne do ouvinte — era isso que buscava o dono da voz de timbre agreste, compositor de um tipo de canção que não dava para cantar sem ferir ninguém. “É para desafinar mesmo! Desafinar sempre, que esse é o desafio. Hoje em dia, já não se pode mais criar sem correr riscos. E eu quero enfrentá-los”, bradava em 1977, à revista “Pop”, Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, o Belchior. Nascido na cidade cearense de Sobral, filho de um bodegueiro, 13° entre 23 irmãos, ele tinha acabado de se tornar — um tanto paradoxalmente, diriam alguns — um artista de grande sucesso da música popular brasileira com “Alucinação” (1976), LP que vendeu 30 mil cópias em menos de três semanas de lançado.

“Não me peça que eu me faça uma canção como se deve / correta, branca, suave, muita limpa, muito leve / sons, palavras são navalhas”, cantava Belchior na canção que abriu o disco, “Apenas um rapaz latino-americano”. Era a saga do garoto “sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”, com audácia para virar, com ironia, a página do Tropicalismo de Caetano Veloso (citado na letra como “um velho compositor baiano”). Com duas canções popularizadas por Elis Regina (“Velha roupa colorida” e “Como nossos pais”) e outras igualmente fortes, como “Sujeito de sorte” e “Como o diabo gosta”), “Alucinação” foi a obra-prima do cantor, disco em que ele exprimiu a urgência do jovem brasileiro entre a violência do estado e o fim dos sonhos de liberdade representados pela revolução contracultural.

Belchior começou a carreira apresentando-se em festivais de música no Nordeste. Durante certo tempo, fez parte de uma cena de cantores e compositores, o Pessoal do Ceará, junto com nomes como Fagner e Ednardo. Em 1971, inscreveu-se no IV Festival Universitário da Canção, no Rio, e ganhou o primeiro lugar com “Hora do almoço”, interpretada por Jorge Melo e Jorge Teles. Na época, conheceu o cantor e compositor Sérgio Ricardo, que escolheu a música “Mucuripe”, feita em parceria com Fagner, para fazer parte do “Disco de bolso” do jornal “Pasquim”. Logo, Elis Regina e Roberto Carlos gravariam a canção da então desconhecida dupla.

 

Cantor e compositor Belchior em retrato de 1987 (Foto: Silvio Ricardo Ribeiro/Estadão Conteúdo)

 

Trajetória

Na infância no Ceará, Belchior estudou piano e música coral, e trabalhou no rádio em sua cidade natal. Seu pai tocava flauta e saxofone, e sua mãe cantava em coro de igreja. Mudou-se em 1962 para Fortaleza, onde estudou Filosofia e Humanidades. Também chegou a estudar medicina, mas abandonou o curso em 1971 para se dedicar à música.

Começou apresentando-se em festivais pelo Nordeste. Depois do sucesso de “Mucuripe”, mudou-se para São Paulo, onde compôs trilhas sonoras para filmes e passou a fazer shows maiores e aparições em programas de televisão. Em 1974, lançou seu primeiro disco, “A palo seco”, cuja música título se tornou sucesso nacional e ganhou versões ao longo da história, como a de Oswaldo Montenegro e da banda Los Hermanos.

Outros artistas também regravaram sucessos de Belchior, entre eles Roberto Carlos (“Mucuripe”) e Erasmo Carlos (“Paralelas”), Engenheiros do Hawaii (“Alucinação”), Wanderléa (“Paralelas”) e Jair Rodrigues (“Galos, noites e quintais”). Elis Regina foi uma de suas maiores intérpretes: além de “Como nossos pais”, gravou “Mucuripe”, “Apenas um rapaz latino-americano” e “Velha roupa colorida”.

Em 1982, o cantor lançou “Paraíso”, que tem participações dos àquela época ainda jovens artistas Guilherme Arantes, Ednardo Nunes, Jorge Mautner e Arnaldo Antunes. Fundou sua própria gravadora e produtora, a Paraíso Discos, em 1983. Ao longo da carreira, Belchior teve mais de 20 discos lançados.

COMPARAÇÕES COM BOB DYLAN

Um compositor refinado, cujas referências poéticas passavam por Fernando Pessoa, Arthur Rimbaud, T.S. Elliott e João Cabral de Melo Neto, Belchior não escapava às comparações com o americano Bob Dylan, por causa do timbre anasalado e os longos versos espremidos nas canções, às vezes de forma falada. Mas ele dizia que o buraco era mais embaixo, e tinha a ver com a infância passada em colégio de padres. “Cantei muito gregoriano, que tem esse desequilíbrio, porque usa a música como apoio para dizer os versículos enormes da Bíblia como uma melodia pequena”, disse em 1976, ao “Jornal do Brasil”.

Depois de um LP lançado em 1974, sem repercussão, e do sucesso com “Paralelas” (gravada por Erasmo Carlos e Vanusa), Belchior foi para a gravadora Philips, pelas mãos de Marco Mazzola, que produziria “Alucinação”.

O compositor da inquietude da juventude aos poucos cederia ao romantismo e à sensualidade, no LP “Todos os sentidos” (1978) e, no ano seguinte, voltaria a fazer grande sucesso com a canção “Medo de avião”. Em 1982, Belchior lançou o LP “Paraíso”, no qual gravou canções de um Arnaldo Antunes pré-Titãs (“Ma” e “Estranheleza”) e de Guilherme Arantes (“A cor do cacau”). No Facebook, Guilherme escreveu: “Belchior, que eu não canso de homenagear de todas as maneiras, foi e sempre será o melhor letrista de canções transformadoras que já existiu. Uma mente privilegiada em cultura e de talento cortante e visceral.”

O último disco de canções inéditas de Belchior foi “Baihuno”, de 1993, no qual a pesquisadora da USP Josely Teixeira Carlos (autora de teses sobre o artista) afirma que ele fez “um sumário das ideias que apresentou ao longo da carreira, de rapaz latino-americano, ‘baiano’ (uma referência a como os nordestinos são chamados em São Paulo) e ‘huno’ (o povo bárbaro da Ásia Central que migrou para a Europa nos séculos IV e V em busca de novos pastos)”.

Depois de um último disco, independente e de regravações, em 2003, Belchior foi se retirando de cena. Em 2006, dividiu o palco com o grupo Los Hermanos (que regravara a sua “A palo seco”) e, três anos depois, fez sua última aparição pública em um show de Tom Zé, em Brasília. Desde então, envolvido com dívidas, ele desapareceu, evitando contato com a imprensa ou com seus fãs.

 

Belchior

Grande expoente da música popular brasileira, criador de hinos da MPB, como Alucinação, Apenas um Rapaz Latino Americano e Como Nossos Pais (Foto: Divulgação)

 

Enigmático e “desaparecido”

Nos últimos anos, Belchior ficou conhecido por ter abandonado a carreira, a família e os bens pessoais. Em agosto de 2009, foi dado como desaparecido pela família e amigos. O sumiço foi destaque até no jornal britânico “The Guardian”. O artista, no entanto, foi visto pela cidade de Artigas, no Uruguai e, depois, em Porto Alegre.

Em 2006, o cantor e compositor, criador de hinos da MPB, como Alucinação, Apenas um Rapaz Latino Americano e Como Nossos Pais, sumiu sem deixar (muitos) vestígios.

Na celebração dos 40 anos de lançamento do disco de estreia do músico, chamado Alucinação, a equipe do Caderno 2 buscou informações sobre o paradeiro dele. As últimas informações davam conta de que Belchior havia sido visto no Rio Grande do Sul, Estado onde ele morreu, e que ele havia desaparecido propositalmente por conta de dívidas que não conseguia pagar.

Belchior deixou o flat onde morava com a mulher Ângela Margareth Henman Belchior e os dois filhos na zona sul da capital paulista no final de 2006, quando os problemas financeiros ficaram mais intensos. Ele também abandonou os dois carros.

O Sonata Hyundai branco, deixado no Aeroporto de Congonhas, continua no mesmo local. A reportagem tentou ter acesso ao veículo, mas, por causa de processos judiciais, não conseguiu vê-lo.

Segundo levantamento feito pela reportagem na época da sua publicação, em 8 de maio de 2016, as dívidas com a administradora SAO Parking ultrapassam o valor de R$ 200 mil. O outro carro, uma Mercedes, abandonado em um estacionamento próximo ao seu apartamento, foi localizado no pátio Presidente Wilson.

O veículo está no local desde o dia 24 de junho de 2011 e soma, aproximadamente, R$ 3 mil em multas. Já com o estacionamento na zona sul onde ele havia sido deixado, as multas passam de R$ 70 mil.

Belchior se autoexilou. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que até suas palavras foram minguando nos últimos anos. Era pontual, chegava no escritório às 8 horas, tomava pó de guaraná, lia. O produtor Célio Silva foi chamado, certa vez, para socorrê-lo quando Belchior foi ameaçado pelo pedreiro que cobrava mais dívidas.

A Silva, Belchior explicou o desejo de aumentar o cachê dos seus shows, comparando-se a Zeca Baleiro, que, segundo ele, ganhava mais dinheiro do que ele. Os chamados para apresentações, contudo, minguaram. De 15 apresentações mensais, ele passou a ter dificuldade para encontrar contratantes dispostos a tê-lo no palco.

As dívidas cresciam e, encurralado, Belchior sumiu. Passou a se disfarçar. Escondia-se. Até o velório da mãe, Dona Dolores, ele perdeu para não ser encontrado.

Localizado pelo programa “Fantástico”, o cantor se recusou a falar o motivo do desaparecimento, mas afirmou que estava compondo e fazendo shows. Santa Cruz do Sul era sua atual morada.

Belchior morreu em 30 de abril de 2017, de rompimento da aorta, na Residência Bom Padrão, no bairro Santo Inácio em Santa Cruz, no Rio Grande do Sul, onde vivia desde 2000.
(Fonte: https://oglobo.globo.com/cultura/musica  – CULTURA – MÚSICA – POR O GLOBO – 30/04/2017)

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(Fonte: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia – POP & ARTE / Por G1RS e RBS TV – 

(Fonte: http://extra.globo.com/tv-e-lazer – TV E LAZER/ Por Eduardo Rodrigues e Fabrício Provenzano – 30/04/17)

(Fonte: http://odia.ig.com.br/brasil/2017-04-30 – BRASIL – 30/04/17)

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